Vocabulário de MudançaApresentação detalhada
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990 (de agora em diante AO), está em vigor em vários países da CPLP desde 2009. Foi determinado um período de adaptação de três anos no Brasil e de seis anos em Portugal, durante o qual a grafia instituída pelo AO será oficialmente válida a par da do Formulário Ortográfico de 1943, no Brasil, e da do Acordo Ortográfico de 1945, nos restantes países da CPLP. Nesta página, descrevemos com maior detalhe o Vocabulário de Mudança, uma ferramenta de apoio a esta transição. Para uma descrição abreviada das regras de escrita que mudam, consulte a apresentação das mudanças. Os critérios seguidos na interpretação das regras do AO podem ser consultados nesta página.
No texto do AO previa-se a edição de um vocabulário oficial válido para todos os países de língua oficial portuguesa, no qual se estabeleceria em definitivo a aplicação das novas regras a cada palavra. Essa obra está ainda em elaboração, pelo que as únicas referências disponíveis neste momento são de âmbito nacional, determinadas pelos governos de cada país. Por agora, apenas Portugal e o Brasil o fizeram, Portugal através do Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), e o Brasil através do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (VOLP).
O Vocabulário de Mudança é uma ferramenta de auxílio à adaptação às alterações em curso, dando conta das alterações que o AO provoca na grafia das palavras constantes do VOP, apresentando, sempre que exista, a correspondente atestada no VOLP. O Vocabulário de Mudança reúnem as palavras cuja ortografia muda e, nos casos em que as regras do AO permitem várias formas possíveis, as variantes ortográficas permitidas e as variedades em que é aconselhável o seu uso. As palavras do VOP que não são incluídas neste vocabulário mantêm a sua ortografia.
Variação
O AO admite opcionalidade em vários casos, permitindo que as palavras tenham várias formas possíveis. Este aspeto não é uma novidade introduzida pelo AO, uma vez que sempre existiu variação na escrita do português, em geral reflexo de variação existente também na pronúncia. Essa variação pode dar-se internamente, num dado país (por exemplo, em Portugal são igualmente aceitáveis ouro e oiro ou cobarde e covarde), ou entre países (no Brasil são usadas as formas anônimo e bebê, em Portugal e noutros países anónimo e bebé).
Uma diferença importante do AO em relação a reformas ortográficas anteriores é que a ortografia de todas as variedades do português passa a ser ditada por um único documento, sendo cada forma variante de uma palavra oficialmente aceite como representante válida da língua portuguesa como um todo. Esta alteração torna possível, por exemplo, que os documentos oficiais respeitantes aos países da CPLP deixem legalmente de ter que ser escritos em duas versões para terem validade.
Seguimos no Vocabulário de Mudança a interpretação de que esta opcionalidade pode dar-se tanto dentro de uma variedade específica como entre espaços geográficos, sobretudo entre o Brasil e os restantes países. Isto significa que na prática continua a existir variação entre Portugal e o Brasil, embora seja menor do que antes da aplicação do AO (a situação nos PALOP e em Timor, pela falta de recursos já disponíveis, não é abordada neste vocabulário).
Isto não implica, portanto, que todas as formas de cada palavra sejam igualmente aconselháveis em todos os espaços geográficos. No Vocabulário de Mudança, quando uma forma é aceite apenas num dado país, essa informação é referida explicitamente através de uma nota. No entanto, não são dadas indicações relativas a restrições de uso dentro cada país, dada a inexistência de informação desse tipo no VOP. Ou seja, quando duas formas são indicadas como válidas num dado país, embora sejam ambas corretas, não são necessariamente aconselháveis em igual medida.
O AO descreve apenas regras de escrita da língua, não regulando questões relacionadas com a pronúncia, o léxico, a sintaxe ou a semântica. Por isso, o Acordo Ortográfico não unifica nem pretende unificar as variedades da língua a esses níveis, mas apenas determinar por meio de regras comuns a escrita da língua portuguesa em todos os países em que é oficial. Por exemplo, o AO nada diz sobre questões como a variação entre o uso do gerúndio ("estou fazendo um texto"), mais generalizado em alguns países, e da construção a+infinitivo ("estou a fazer um texto"), mais comum noutros. Da mesma forma, o AO não condiciona a seleção lexical: não se diz no texto que abridor de latas e grampeador devem ser as palavras usadas no Brasil, ou que abre-latas e agrafador são as palavras equivalentes para Portugal.
Formas de citação
O Vocabulário de Mudança baseia-se nas formas de citação das palavras. Isto é, as palavras aqui apresentadas não são formas flexionadas: indicamos que em Portugal a grafia do adjetivo abstracto muda para abstrato, mas não que o feminino plural abstractas do mesmo adjetivo muda para abstratas, ficando isso subentendido pela grafia da forma de citação, que representa todas as formas flexionadas a si associadas.
Há mudanças em algumas formas flexionadas cuja forma de citação se mantém. São disso exemplo a queda do acento circunflexo em formas como vêem, do verbo ver, e a perda de diacrítico da forma pára do verbo parar. Estas mudanças não são incluídas na lista principal de mudanças, mas podem ser consultadas na lista de formas. Esta separação é feita para não misturar formas de citação e formas flexionadas numa só lista.
A lista de formas não inclui os cerca de 13 000 verbos da 1.ª conjugação registados na nossa base de dados em que o acento utilizado na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo passa a ser opcional em Portugal. Por exemplo, andámos e andamos passam a ser ambas válidas para aquela pessoa e tempo do verbo andar.
Fontes de referência e critérios de tratamento da variação
Dado que em alguns casos as consoantes que não são ditas deixam de se escrever (cf. base IV do AO), para determinar a ortografia das palavras é preciso conhecer a sua pronúncia. Para estabelecer em cada caso se a consoante se pronuncia ou não, o Vocabulário de Mudança baseou-se nas fontes apresentadas a seguir. Para Portugal, em
dicionários gerais de referência que incluem informação fonética, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa (2001), e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora (1.ª ed., 2004). Por seguirem até agora a mesma norma que Portugal, considerou-se, temporariamente, que os PALOP e Timor apresentarão formas idênticas. Em casos de dúvida, foram usados corpora de fala espontânea, como o Corp-Oral e efetuados testes vários: de leitura (usando a grafia de 1945), de preferência (por uma de duas pronúncias ouvidas), e de elicitação por contexto (i.e. sem recurso à leitura ou audição de cada caso). Para o Brasil, tomou-se como referência o VOLP (5.ª ed., 2009).
Tentámos manter homogéneo o tratamento de constituintes morfológicos: se manufator (e não manufactor) é a forma apresentada no Vocabulário de Mudança, adotamos a mesma solução em palavras relacionadas, como torrefator, contrafator ou tumefator. No caso de palavras da mesma família, este critério não foi adotado: por exemplo, é consensual nas fontes que na pronúncia culta portuguesa se diz contacto e intacto, mas tato, o que faz com que a relação ortográfica entre algumas palavras aparentadas se perca com a nova grafia.
Como usar?
Versões do Vocabulário de Mudança
Antes do Acordo Ortográfico, a grafia com que eram escritas muitas palavras era diferente no Brasil e nos outros países em que o português é usado como língua oficial (Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor). Isto faz com que as palavras cuja grafia muda sejam diferentes consoante o país. Por exemplo, a grafia da palavra ideia da antiga ortografia de 1945 não muda, mas a grafia idéia, usada anteriormente no Brasil, é alterada. Por outro lado, a palavra ação da antiga grafia do Brasil, de 1943, não é afetada pelo Acordo Ortográfico, mas a grafia da palavra acção é-o nos países que seguiam as regras de escrita determinadas em 1945. Para facilitar a leitura, o Vocabulário de Mudança tem três versões: uma com as palavras que mudam relativamente ao Formulário Ortográfico de 1943 (do Brasil), uma que lista as palavras cuja grafia muda relativamente ao Acordo Ortográfico de 1945 (seguido nos restantes países de língua oficial portuguesa), e uma terceira que combina todas a mudanças, independentemente da norma, apresentando igualmente as variantes cuja grafia passa a ser determinada por uma única regra, mas cuja grafia não muda (como anónimo e anônimo.
Apresentação dos dados
A apresentação das palavras afetadas pelo AO é feita por ordem alfabética, com divisão por letra. A primeira coluna contém a forma que sofreu alterações, a segunda coluna apresenta a nova forma de a escrever. Na lista com todas as alterações, independentemente da norma anterior, além da inclusão de colunas com informação para cada variedade ortográfica anterior (1943, no Brasil, 1945, nos restantes países) e para a nova forma, são apresentadas notas em que são indicadas possíveis restrições de uso das palavras com variantes.
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